Um dos evangelhos mais desconcertantes está em Marcos 2, 13-17. Enquanto passava, Jesus viu Levi, o filho de Alfeu, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: "Segue-me!" Levi se levantou e o seguiu. E o Rabi foi mais longe. Com seus discípulos, sentou à mesa na casa do mesmo Levi com muitos cobradores de impostos e pecadores.
Os doutores da lei se escandalizaram:"Por que ele come com os cobradores de impostos e pecadores?" Jesus, ao ouvir a pergunta, usou palavras desconcertantes para esclarecer o maior objetivo de sua missão: "Não são as pessoas sadias que precisam de médico, mas as doentes. Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores."
Na Igreja comunidade, apontamos muitas vezes para os erros e os desvios alheios com o objetivo torto de ressaltar a nossa suposta santidade. O prazer de comentar as dificuldades e as misérias do outro preenchem o nosso ego e ajuda a lustrar a nossa imagem de "santinhos do pau oco". Jesus condena essa hipocrisia com veemência não só com palavras, mas, sobretudo, com atitudes.
No parágrafo 549 do nosso glorioso Catecismo, o magistério da Igreja deixa claro que Jesus não veio para abolir todos os males da terra (Jo 18, 36), mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado (Jo 8, 34-36). Nesta lógica inversa do Cristo, quanto mais pecadora uma pessoa, maior atração exerce sobre o seu piedosíssimo coração. E a missão dos verdadeiros discípulos é reunir e acolher a todos com amor incondicional para mostrar com palavras e atos, a misericórdia sem limites do Pai (Lc 15, 11-32).
O arrependimento e as correções na vida são necessárias, mas o amor para propô-las é ainda mais importante. O cristão não deve alegrar-se pelos seus pecados pois rompem a amizade com Deus, mas nunca devem se desesperar como casos perdidos. Pelo contrário, precisam acreditar que a misericórdia do Pai é sempre maior que o pecado cometido. Para Deus, o importante é a nova vida que se inicia a partir do encontro pessoal com Ele. Como homens novos, redimidos pelo sangue de Jesus, passamos então a levar esta boa nova para aqueles que ainda não descobriram que existe uma imensa "alegria no céu por um único pecador que se arrepende" (Lc 15, 7). Pecadores do mundo inteiro, alegrai-vos, porque Jesus tem imensa alegria em sentar na sua mesa.
Por Eder Costa
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