Quem não sabe que a mentira é um dos pecados mais comuns
entre os homens? Com que facilidade se diz ou se faz entender ao outro uma
coisa por outra! No comércio ou no escritório, em família ou na fábrica:
quantas mentiras e subterfúgios! Quem poderá enumerá-las senão Deus? Somo
superficiais em considerar a mentira um pequeno pecado. E então não nos
preocupamos em mentir muito quando nos for cômodo. Se dirá que são mentiras de
desculpa ou sem dano, ou úteis para evitar um mal. Mas Pe. Pio dizia que
"as mentiras de desculpas são as jaculatórias do diabo". A um
penitente que lhe perguntou se mentiras de desculpas não se dizem, respondeu
secamente: "NÃO"."Mas, Padre - continuou - não trazem
dano". - Pe. Pio: "Não trazem danos aos outros, mas à tua alma sim,
pois Deus é a verdade".
É filha do diabo
"O diabo é mentiroso e pai da mentira". (Jo 8,44).
Eis quem é o verdadeiro pai das nossas mentiras. É ele que nos oferece todas as
mentiras que nós distribuímos aqui e ali com tanta simplicidade. Pobre de nós!
Se nos déssemos conta desta realidade, compreenderíamos a sensibilidade dos
santos ao opôr-se com todas as forças a toda mentira a fim de não terem nada
com o pai dela. O angélico Guido de Fontgalland, predileto de Maria, provava um
sincero horror por cada mínima mentira. Sua mãe, uma vez, ordenou a empregada
dizer: "A quem me chamar, diga que saí".Ouvindo isso, Guido abraçou a
mãe, dizendo: "Mãe, por que dizes duas mentiras: a tua e aquela da
empregada? Eu ficaria mais contente em ter dor de dentes a dizer uma coisa não
verdadeira".Melhor sofrer pela verdade que gozar pela mentira. Melhor o
sofrimento com Deus ao prazer com o diabo.
Sim, sim! Não, não!
Deus é luz de verdade. O diabo é treva de mentira. A alma
sincera é luminosa. A alma mentirosa está nas trevas. Nós, cristãos, devemos
ser filhos da luz (cf. Jo 12,36). Jesus nos disse que o nosso falar deve ser
claro e leal: Sim, sim! Não, não! (Mt 5,37). Falar com engano, mascarando a
verdade é arte da ruim serpente antiga (Ap 12,19) que enganou Adão e Eva no
Éden (Gn 3,17). Nisto consiste a mentira: dizer o contrário do que se pensa com
intenção de enganar. "Não levantar falso testemunho" (Lc 18,20) é o
mandamento de Deus que nos coloca em luta contra o pai da mentira. Devemos ser
enérgicos e falar sempre a verdade a qualquer custo. S. João Câncio, padre
polonês, foi assaltado. Roubaram-lhe tudo o que tinha nos bolsos e lhe
perguntaram: "Tens mais algum coisa?" "Não", respondeu. Os
ladrões foram embora. Mas S. João lembrou-se de ter costurado algumas moedas no
hábito. Correu até os assaltantes e lhes ofereceu as moedas. Eles ficaram tão
surpresos que não só a recusaram como devolveram tudo o que roubaram.
Língua de impostura
É verdade que muitas vezes a verdade nos custará incômodos
ou dores graves. É verdade. Mas o que é isso frente às ofensas a Deus? De
frente ao juízo e castigo de Deus? "A tua língua é como lâmina afiada.
Artífice de enganos. Tu preferes o mal ao bem, a mentira ao falar sincero. Amas
toda palavra de ruína, ó língua de impostura. Por isso Deus te demolirá para
sempre." (Sl 51,4-7). S. André Avelino era advogado. Ao defender uma
causa, disse uma pequena mentira. Triste por esta fraqueza, aconteceu-lhe de
ler este verso: "A boca que diz mentiras mata a alma!" (Sb 1,11) Não
mais hesitou, mas preso por uma impetuosa Graça, retirou-se do mundo, fez-se
religioso e foi Santo. Foi o prêmio de sua delicadeza de consciência. Façamos
nossa esta máxima de S. Vicente de Paula: "A nossa língua deve exprimir as
coisas como as temos dentro, senão é preciso calar-se."Dizer a verdade ou
calar-se.
A Virgem que escuta
Se todos lêssemos e meditássemos o cap. 3 do livro de Tiago
sobre a língua, amaríamos o silêncio e estaríamos mais atentos ao usar a
língua, que amiúde "é um fogo, é o mundo da iniqüidade; um mal rebelde,
cheio de veneno mortal" (3,6-8) Mentiras, falsidades, erros, calúnias,
ofensas e blasfemias; tudo passa pela língua. E quanto amiúde o nosso falar é
infectado de tais males sem que o nem queiramos. Olhemos, ao invés, a Nossa
Senhora. Quanto silêncio em sua vida! Silenciosa e iluminosa, ela aparece no
Evangelho e está perto de Jesus, enquanto conservava todas as palavras,
meditando-as em seu coração (cf. Lc 2, 19). Justamente o Papa Paulo VI a chamou
"Virgem que escuta" (Marialis Cultus, n.17) apresentado-a qual modelo
perfeito da Igreja na incessante relação com Deus, não turbado por palavras vãs
(Ef 5,6) nem profanado por palavras falsas (Pr 30,8).
Votos
* Ler e meditar o capítulo 3 de São Tiago (1-12)
* Beijar mais vezes o crucifixo, pedindo a Deus perdão pelos
pecados da língua.
* Rezar a Maria para fazer-nos sempre dizer a verdade ou
calar-se, nunca dizer mentiras.
*Meditações do livro "Um mês com Maria", do padre
Stefano Maria Manelli.
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