1850. O
pecado é uma ofensa a Deus: «Pequei contra Vós, só contra Vós, e fiz o mal
diante dos vossos olhos» (Sl 50, 6). O pecado é contrário ao
amor que Deus nos tem e afasta d'Ele os nossos corações. É, como o primeiro
pecado, uma desobediência, uma revolta contra Deus, pela vontade de os homens
se tornarem «como deuses», conhecendo e determinando o que é bem e o que é
mal (Gn 3, 5). Assim, o pecado é «o amor
de si próprio levado até ao desprezo de Deus» (Santo Agostinho). Por
esta exaltação orgulhosa de si mesmo, o pecado é diametralmente oposto à obediência
de Jesus, que realizou a salvação (Cf. Fl 2, 6-9.).
Se não houvesse Deus, o pecado seria apenas uma falha humana entre tantas, de alcance limitado, com consequências terrenas, restritas à vida de quem o cometesse e de suas vítimas. Talvez nem mesmo existiria o termo pecado. Por essa ótica, a responsabilidade do transgressor poderia até se anular em função das circunstâncias psicológicas, culturais, sociais e econômicas que o influenciaram.
Para o católico, o pecado significa muito mais que um simples
erro. Quando acontece, transcende os limites da terra, chega ao trono do
Criador no mesmo instante em que é cometido. O pecador fica exposto diante de
Deus: «Pequei contra Vós, só contra Vós, e fiz o mal diante dos vossos
olhos» (Sl 50, 6). A lei transgredida é eterna
com alcance e penalidades também eternos. Aqui não é tão importante o que se
fez, mas a quem se ofendeu.
No parágrafo 1850, o catecismo vai recordar sobre
o pecado original. A desobediência de nossos primeiros pais no paraíso é a
origem de todos os males que entraram no mundo. A violação da ordem divina,
estimulada por satanás, aconteceu quando Adão e Eva aceitaram a tentação de
serem deuses, conhecendo e determinando o bem e o mal. Essa vontade (de sermos
deuses) ainda grita em nós. Sem a perspectiva eterna, queremos ser felizes do
nosso jeito, de preferência com todo poder e recursos à nossa disposição. Essa alegria com prazo de validade requer múltiplas possibilidades de prazeres e
regalias. É preciso desfrutar o máximo nessa terra.
Como a vida não para nos momentos felizes, a
tendência é tentarmos prolongá-los e fugir de qualquer sofrimento. Assim, escancaramos as portas para
o deleite dos sentidos e fechamos o acesso ao Espírito Santo que nos convida à renúncia e a trocarmos os bens temporais pelos eternos: "Ajuntai para vós tesouros no céu,
onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem
roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração." (Mt 6, 20-21)
Santo Agostinho ao constatar esta nossa sede
insaciável pelas coisas criadas definiu: o pecado é «o amor de si próprio levado até ao
desprezo de Deus». A vanglória, a alto-exaltação e as tentações nos levam para
o sentido oposto da obediência e da solicitude de Jesus que lavou os pés dos
apóstolos e pediu para lavarmos também uns dos outros. O pecado sempre inicia
com o orgulho de não querermos servir a Deus e termina com uma vida solitária,
triste e amarga. Um verdadeiro inferno que começa aqui e só termina com um
sincero arrependimento antes da morte.
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