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 Café coado, oração filtrada Hoje, enquanto passava o café, me ocorreu algo simples, mas profundo: o filtro do papel retém o que não serve para beber, assim como a humildade filtra o que não serve para a alma. Sem humildade, até mesmo a oração entorna vaidade. O Evangelho de hoje foi como aquele aroma que sobe da xícara quente: direto, discreto e necessário. Jesus não suaviza: alerta sobre a tentação de “ser visto” mesmo naquilo que é mais íntimo, como a esmola, o jejum e a oração. Tudo pode se tornar palco, inclusive o que era para ser altar. E quantas vezes, sem perceber, transformamos nossa espiritualidade numa vitrine? Mostramos frases piedosas, postamos preces elaboradas, corrigimos a teologia dos outros  e, no entanto, estamos tão distantes do silêncio interior que é o único lugar onde Deus nos espera: “entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto” (Mt 6,6). 2. Saber muito não é rezar bem O capítulo 2 da Imitação de Cristo é quase um espelho...
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  Entre o brilho do mundo e a luz de Cristo Seguir Jesus é mais do que admirá-lo “Quem me segue, não andará nas trevas” (Jo 8,12). Essa promessa de Jesus não foi feita apenas para santos canonizados ou religiosos em clausura. Ela é para mim, para você — para todo batizado que deseja viver à luz da verdade. Mas sejamos sinceros: quantas vezes dizemos seguir Jesus, mas mantemos a alma embriagada pelas luzes falsas do mundo? Seguir não é contemplar de longe, nem aplaudir os passos de Cristo como se estivéssemos na plateia. Seguir é calçar Suas sandálias, é permitir que o Evangelho desça da cabeça para o coração e transforme a vida. Não é à toa que o Catecismo nos recorda: “Cristo nos dá o exemplo a seguir: Ele é o modelo das bem-aventuranças e a norma da caridade” (CIC §459). Você já parou para se perguntar: “O que eu faço todos os dias que realmente se parece com Jesus?” Ou será que minha vida é apenas um cristianismo cultural, exterior, sem conversão? A armadilha sutil da vaidade S...

SOBRE O ALIMENTO ESPIRITUAL

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A compreensão antecede a prática. Mesmo a experimentação parte de uma hipótese, que é uma possibilidade de compreensão. O experimento é o teste para confirmar ou impugnar uma ideia prévia. Também o ato instintivo parte da compreensão inconsciente de que algo é vital ou fatal para o sujeito disparando um mecanismo automático de desejo ou repulsa. Dito isso, entro na questão que interessa: a vida espiritual. Trata-se de um dos temas mais incompreendidos da face da terra. Daí a abundância de falsos profetas e de tantas almas perdidas na confusão da contemporaneidade. E se não a compreendemos, quanto mais incapazes somos de a viver plenamente. Eu próprio não a vivo, mas enfrento a dificuldade extrema de buscar compreendê-la e o que vou expor abaixo é apenas uma pífia tentativa de organizar o resultado de alguns anos de estudo e prática, que mal toca a circunferência desse círculo de infinitas possibilidades. O homem é um organismo psicofísico. De um lado tem um corpo que absorve o...

A ALMA TERÁS, SENHORA, TRESPASSADA

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Há certas obviedades que se tornam esquecidas em tempos sombrios. O fundamento ou fato inaugural da Igreja Católica é a Encarnação, Vida Miraculosa, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem, conforme consta no Ato de Fé dos católicos. O óbvio dessa questão basilar do Catolicismo é que esse fato inaugural é o modelo supremo para a vida do cristão. Houve uma época, quando a Igreja Católica tinha autoridade plena sobre as consciências, em que as cenas essenciais da História do Messias estavam disponíveis para todas as mentes e por meio de todos os sentidos, na alimentação e jejum, na arquitetura e nas artes visuais, na música, no incenso e na aromática da natureza e por toda a textura da realidade mesma. Com tantos elementos simbólicos no imaginário era possível - ou pelo menos mais fácil - ser um bom cristão e até mesmo um santo, como os tantos produzidos no passado. Hoje é diferente. Essas cenas quase desapareceram do imaginário e o resultad...

A raiz do pecado

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1488.  Aos olhos da fé, não existe mal mais grave do que o pecado; nada tem piores consequências para os próprios pecadores, para a Igreja e para todo o mundo. 1853.  Os pecados podem distinguir-se segundo o seu objeto, como todo o ato humano; ou segundo as virtudes a que se opõem; por excesso ou por defeito; ou segundo os mandamentos que violam. Também podem agrupar-se segundo outros critérios: os que dizem respeito a Deus, ao próximo, à própria pessoa do pecador; pecados espirituais e carnais: ou, ainda, pecados por pensamentos, palavras, obras ou omissões. A raiz do pecado está no coração do homem, na sua vontade livre, conforme o ensinamento do Senhor: «do coração é que provêm pensamentos malévolos, assassínios, adultérios, fornicações, roubos, falsos testemunhos, maledicências – coisas que tornam o homem impuro» (Mt 15, 19). Mas é também no coração que reside a caridade, princípio das obras boas e puras, que o pecado ofende. O assunto é quase proibi...

Ofendemos a quem mesmo?

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1850.  O pecado é uma ofensa a Deus: «Pequei contra Vós, só contra Vós, e fiz o mal diante dos vossos olhos» (Sl 50, 6). O pecado é contrário ao amor que Deus nos tem e afasta d'Ele os nossos corações. É, como o primeiro pecado, uma desobediência, uma revolta contra Deus, pela vontade de os homens se tornarem «como deuses», conhecendo e determinando o que é bem e o que é mal (Gn 3, 5). Assim, o pecado é  «o amor de si próprio levado até ao desprezo de Deus»  (Santo Agostinho). Por esta exaltação orgulhosa de si mesmo, o pecado é diametralmente oposto à obediência de Jesus, que realizou a salvação (Cf. Fl 2, 6-9.). Se não houvesse Deus, o pecado seria apenas uma falha humana entre tantas, de alcance limitado, com consequências terrenas, restritas à vida de quem o cometesse e de suas vítimas. Talvez nem mesmo existiria o termo pecado. Por essa ótica, a responsabilidade do transgressor poderia até se anular em função das circunstânc...

Pecado, o inimigo número um

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(849): O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a reta consciência. É uma falha contra o verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo, por causa dum apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. Foi definido como «uma palavra, um ato ou um desejo contrários à Lei eterna». O Pecado contra Deus é um assunto quase proibido. Se você quer ser rotulado de fundamentalista e descartado no meio de uma conversa, toque no assunto e se sentirá como um leproso no tempo de Jesus. Mas, para o católico em busca da porta estreita, o pecado é o bode no meio da sala, ou melhor, no meio da alma.   Este bode incomoda e suas investidas podem ser fatal para essa vida e a futura. Alguém precisa tirá-lo de lá, pois o fedor é insuportável e cresce quando se instala. E quem poderia limpar o ambiente? O profeta João Batista aponta com precisão : “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. (Jo 1, 29) Jesus é o único que p...